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Uma ida ao supermercado pode render observações interessantes sobre o ser humano e a civilização. Por exemplo: os carrinhos de supermercado. O homem já está vencendo o câncer, controla a energia atômica, esteve na lua mas, até hoje, não foi capaz de produzir um único carrinho de supermercado que funcione. Eles sempre puxam para um lado, emperram, têm rodas bambas. Você empurra o carrinho cheio, ele vai para cima da senhorinha que está escolhendo calmamente sua alcachofra. Se houvesse um leilão de um carrinho que realmente funcionasse, acho que ele alcançaria valores maiores do que uma Ferrari.
Os rótulos. Rótulos e embalagens podem ser enlouquecedores. Um dia um sujeito inventou um detergente que fez muito sucesso. E então todas as embalagens ficaram parecidas com aquela. É assim: uma prateleira com 1325 detergentes e produtos de limpeza, todos exatamente iguais. É impossível você achar o que você quer. Mas a sacanagem maior mesmo é quando o fabricante muda a embalagem e você fica com cara de bobo, olhando a prateleira. Não, a embalagem do Nuggets Perdigão não tem mais a Mônica, senhor, agora é a Magali. É tudo igual, só mudou o personagem”. Ah, ok.
Pães. Por que, meu Deus, não podemos mais simplesmente comprar aquele bom e velho pão branco, o famoso Plus Vita comum? Não, ele não está à vista. São centenas de outros: iogurte, centeio, flocos, cevada, aveia. Eu queria só o pão de pão!
Encontrar produtos. Existe alguma conspiração entre os donos de supermercado que faz com que os produtos mudem de lugar, sempre. Você fica refém dos arrumadores. Você TEM que perguntar. Problema: os arrumadores usam uniformes de fabricantes. Constrangimento: você quer perguntar onde está o produto concorrente. Exemplo: você está procurando Bombril, mas só tem um arrumador com uma camisa da Assolan. E aí? Eu dava tudo por terminais onde você pudesse digitar o nome do produto e ser informado onde ele está.
Algo me intriga profundamente. Por que a gente faz questão de testar lâmpadas que custam menos de um real, mas compramos computadores de mais de R$ 5 mil sem ligar?
Depois de tudo isso, de encontrar o seu produto correto, com a embalagem certa, de empurrar o seu carrinho rebelde, de testar suas lâmpadas, você, finalmente, vai ter um alento final: a simpatia da caixa. Claro, você não vai prestar tanta atenção assim nela porque inventaram algo para você se distrair: o saquinho plástico que jamais desgruda. Você sopra, balança, se xinga porque corta as unhas até que, finalmente, consegue abrir. O primeiro. Ainda faltam outros 15.
Na saída, nove da manhã, a senhorinha do estacionamento, que agora é cobrado para quem não faz compras, te pergunta: “O senhor fez compras?”
Não. Claro que não. Eu tenho o hábito de vir aqui ao supermercado todo dia, oito e meia da manhã...
(Nelito Fernandes - Revista Época)